Esta parte do livro me provocou muito. Disseram os autores que alguns mitos são utilizados como argumento de legitimação da ocorrência do trabalho infantil. Vejamos:
1. É melhor trabalhar do que roubar – quem é trabalhador não é vadio (vadiagem era crime) – o Estado deveria garantir a propriedade com o uso da força sempre que necessário e também de formas “sutis”, como o presente mito.
2. O trabalho da criança ajuda a família – até 1950 a idéia do trabalho familiar decorre de cultura arraigada no imaginário agrícola – nesse contexto histórico que o trabalho da criança sempre foi considerado como mão de obra à disposição da família – naturalizando o uso da mão de obra infantil.
3. É melhor trabalhar do que ficar nas ruas – limpeza das ruas fundadas nos ideais higienistas. Meninos empobrecidos seriam associados à figura da delinqüência, e seu afastamento das ruas centrais era uma necessidade civilizatória. Na verdade era uma forma de desarticulação das reivindicações, restringindo-se o operário ao espaço da fábrica e da família.
4. Lugar de criança é na escola – o “afastamento das crianças das ruas”, espaço considerado potencialmente perigoso, foi realizado por meio da repressão jurídico-policial, onde o “bem-estar” da criança se faria no espaço “intra-muros” da instituição estatal. Furta, no entanto, a capacidade de as crianças apreenderem um pouco por si próprios, a partir de outras experiência não escolares.
5. Trabalhar desde cedo acumula experiência para o futuro – isso facilitaria acesso às oportunidades profissionais do futuro. O discurso individualista do “homem se faz” joga um importante papel no imaginário social. Revigora a ilusão das possibilidades de ascensão social no modo capitalista de produção.
6. É melhor trabalhar do que usa drogas – associava-se a idéia de infância com estigma social da delinqüência, propondo uma falsa solução de que o trabalho seria o redentor das drogas.
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