Artigo de minha autoria postado no jornal Diário Catarinense
Para comentar: contatogavazzoni@gmail.com
Os regimes parlamentaristas buscam a sintonia com a opinião
pública por um modelo que permite a queda do governo em caso de crise ou
escândalos, sem significar retrocesso. No presidencialismo americano, onde o
voto é facultativo, os políticos correm atrás do engajamento da sociedade por
meio das prévias partidárias, que percorrem os estados em verdadeiras mini
eleições. Na pequenina Islândia, os cidadãos podem participar dos debates da
reforma constitucional usando redes sociais. O arranjo democrático varia, mas o
objetivo central é o mesmo: incentivar a população a debater temas importantes.
E no Brasil, o que temos feito nesse sentido?
Testemunhamos os
cidadãos indo às ruas pedir de tudo um pouco, do fim da corrupção à volta dos
militares. A diversidade temática indica uma insatisfação generalizada, sem uma
queixa central clara, diferente de quando os brasileiros saíram às ruas para
pedir eleições diretas. Quando a pauta é difusa, o desafio interpretativo ganha
outra dimensão, pois fica mais difícil transformar muitas palavras de ordem em
projetos transformadores.
Um possível caminho
para enfrentar a irritação social seja analisar onde estão os abusos cotidianos
que o Estado comete contra o cidadão. São abusos que surgem silenciosamente e
se juntam a outros abusos mais antigos. O Estado abusa da sociedade, por
exemplo, na previdência, ao não apresentar um projeto eficiente que resolva o
caos. Isso vai estourar feio. E não demora
Outro exemplo? O
acesso à Justiça é direito constitucional. Mas como garanti-lo se contamos com
17 mil juízes para desbastar 94 milhões de processos? Numa divisão aritmética,
cada juiz precisaria despachar 5.529 processos para vencer o estoque. Ao ritmo
de uma sentença por dia, levaria 15 anos para darem conta das ações estocadas.
Prometemos algo bonito na Constituição, mas não entregamos um sistema que
funcione no dia a dia.
Vamos empurrar os
problemas para nossos filhos e netos resolverem? Ou debatê-los agora, dando à
sociedade razões para voltar a acreditar em seus líderes? É possível modernizar
a gestão pública, reduzindo as promessas e melhorando as entregas. O Estado não
tem o tamanho dos nossos sonhos, mas o limite estabelecido pelo orçamento. Se
os governantes apontarem o caminho, as pessoas se sentirão mais respeitadas e
ficarão menos arredias.
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