04 de agosto 2015 (artigo publicado pela Associação dos
Jornais Diários do Interior de SC)
Por Antonio Gavazzoni
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São inegáveis e tão fascinantes as facilidades
disponibilizadas a nós por meio da internet que fica difícil imaginar nossas
atividades cotidianas sendo executadas sem acesso à web. Em pesquisa divulgada
no final de abril, o IBGE informou que o mundo virtual é realidade para quase
metade dos brasileiros e, em cinco anos, o aumento do número de usuários foi de
mais de 50%. Como ferramenta de uso ampliado e livre, a internet impulsiona tanto
a produção de conhecimentos fantásticos quanto a de lixo cultural, com
impressionante poder de multiplicação. Entre esses multiplicadores, temos os
chamados “haters” – odiadores, em tradução literal. Pessoas que postam
comentários de ódio ou crítica sem muito critério – e que, por incrível que
pareça, têm público cativo, especialmente nas redes sociais.
Em artigo intitulado “A arte de escrever para idiotas”, a
filósofa Marcia Tiburi classifica os diversos tipos de “críticos” que
conquistaram notoriedade na internet. Pessoas que não se abrem à experiência do
conhecimento, repetem clichês e defendem sem nenhuma razoabilidade ideias sobre
as quais nada sabem. Esse tipo de “escritor” é extremamente ativo e amplamente
aclamado. Ele inibe, muitas vezes, a exposição de ideias ou pontos de vista por
parte de especialistas em seus temas, que não estão dispostos a se expor ao
ódio gratuito dos milhares de “sem noção” espalhados pela rede.
Um exemplo clássico é a divulgação de situações que envolvam
governo e economia local. Um post recente de um tarimbado jornalista
catarinense sobre Lei de Responsabilidade Fiscal, suscitou comentários
inflamados blasfemando a Petrobras, as viagens dos deputados, os cargos
comissionados - assuntos totalmente desconectados do tema exposto. O tema
comissionados é, via de regra, o campeão de audiência entre os comentários
dos haters que expõem, com orgulho, sua total ignorância sobre o funcionamento
dos poderes executivo, legislativo e judiciário. Importante deixar bem clara a
diferença entre aqueles que não sabem, porque muitas vezes não tiveram
oportunidade ou mesmo interesse – e aqueles que não sabem, não querem saber e
têm raiva de quem sabe.
Você, que está se dando ao trabalho da leitura deste artigo,
talvez não saiba que o que o Governo do Estado gasta com os cargos
comissionados não representa 1% do total da folha de servidores, e que SC tem o
menor quadro de comissionados do Brasil. Os números escancaram que,
definitivamente, não é aí que se concentram os gargalos para investimentos. Se
a sociedade fosse consciente do funcionamento das estruturas que ela ajuda a
bancar, talvez tivéssemos ainda mais haters – mas aí com conhecimento de causa.
Que protestariam, por exemplo, contra o fato de gastarmos mais com o pagamento
da previdência dos servidores públicos do que com educação e saúde para toda a
população. Nosso estado tem hoje o quarto melhor portal de transparência do
Brasil. E a grande maioria dos acessos ainda se dá para a consulta sobre os
salários dos servidores. O que falta não é informação, é interesse.